“ÇONHOS”

Carros velhos ainda servem para muitas coisas (14)[2]

O jornalista especializado em automóveis, que desconheço, confesso, Michael Figueredo, escreveu para a Auto Press/MotorDream uma matéria que causou furor na imprensa. Não entendi exatamente o motivo de tanta agitação, pois o caro colega (perdão, ex-colega, não sou mais jornalista) apenas deu nomes aos bois, mas eram todos conhecidos. A razão para o alvoroço foi a denúncia do nível da (falta de) qualidade dos autos fabricados aqui, aqueles mesmos que a maior parte dirige em seu dia a dia. Notem que a matéria trata o caso com alguma frieza, com simples relato, a meu ver, das barbaridades que por aqui são fabricadas e vendidas:

A JD Power, consultoria especializada no mercado automotivo global, revelou nesta quarta-feira, durante o Congresso Fenabrave, em São Paulo os resultados da VOSS Brasil 2013 – Vehicle Ownership Satisfaction Study. A versão nacional do estudo, que avalia o nível de satisfação dos proprietários, mostrou que o brasileiro se preocupa muito mais com o custo de propriedade – que envolve desde a compra até serviços de manutenção e consumo de combustível – do que com a qualidade dos modelos. Os dados apontam ainda para um aspecto nada agradável para a indústria nacional: os carros fabricados no Brasil perdem apenas para os chineses na lista dos que mais apresentam defeitos. (esta é mesmo de doer!)

O VOSS Brasil “ouviu” proprietários que compraram seus veículos entre 12 e 36 meses atrás. A pesquisa foi realizada de abril e junho deste ano através de painéis de consumidores voluntários via internet. Foram quatro critérios avaliados. A qualidade foi considerada a menos importante. Apenas 16% dos donos consideram este o principal fator em sua decisão de compra. Com 19% ficou o design e o desempenho dos modelos. Os serviços de pós-venda representam 23%. O custo de propriedade somou 42% dos votos.

Desperdícios em gastos constantes de manutenção.
Desperdícios em gastos constantes de manutenção.

Para Jon Sederston, diretor da JD Power Brasil, há uma disparidade entre critérios, teoricamente, correlatos, como a qualidade e o custo de propriedade. “Produtos de menor qualidade fatalmente resultam em maior custo para o proprietário, que vai acabar encontrando mais defeitos em seus carros a médio e longo prazos”, afirma Sederston. A pouca preocupação do brasileiro com a qualidade dos veículos pode ser uma das causas de outro aspecto revelado pela pesquisa. Carros fabricados no Brasil apresentam mais defeitos que quaisquer outros, exceto chineses. (argh) “É algo curioso, porque os veículos têm menos conteúdo, o que significa menos coisas para falhar. E ainda assim estão entre os que apresentam o maior número de defeitos”, diz Jon Sederston. Os nacionais foram comparados com modelos fabricados no México, Coreia do Sul, Argentina e China, dentre os quais, o país norte-americano foi apontado como o que produz carros com menor incidência de problemas.

Há muito a se notar e pensar. Primeiro que os carros daqui foram comparados com veículos que não ostentam, no geral, alto nível de qualidade a partir de países de origem de pouca tradição em real qualidade automotiva.

Segundo é que estas informações são de conhecimento há décadas. Quem ainda acredita que compramos autos de boa qualidade? As peças duram pouco e são caras. Os custos de manutenção são altos, em virtude de uma série de fatores. Raciocinem comigo. Nossas vias são de péssima qualidade. Sendo assim, para aguentar trancos sucessivos, lombadas e buracos, a solução é reforçar as carrocerias com mais pontos de soldas e reforços estruturais (quando são feitos, bem entendido) aumentando o peso do carro, o consumo por consequência, e diminuindo seu desempenho. O combustível é aquele caso que ouço desde menino, nosso fedorento combustível é alvo de críticas e piadas praticamente desde que foi inventado. Hoje ao menos há a opção da aditivada, mas fica nisto. As gasolinas “premium” são até razoáveis, mas custam muito e a maior parte dos carros não a usa. Pena, deveriam ser o padrão. A saída para este impasse que se arrasta há anos é legislar mais intensamente e com mais inteligência, sob pena de mantermos coisas na frota como a Kombi, que até muito pouco tempo, ostentava motores refrigerados a ar, geniais (para a década de 30) barulhentos, gastadores e muito, muito poluidores!

Carros e motoristas ruins... Matam!
Carros e motoristas ruins… Matam!

Eu que estou no ramo há muitos anos, tendo trabalhado como jornalista do Setor por aqui, posso afiançar que nossos veículos ainda são primários porque o público é imaturo do ponto de vista de consumo, nós brasileiros compramos carros em massa há pouco mais de uma década. É muito pouco, mas o suficiente para que algo mais efetivo já tivesse sido feito.

Criamos assim castas de consumo, com a maior parte dos motoristas comprando os nacionais sem saberem ao certo o que podem ou não esperar deles, e os calejados e abonados apaixonados por autos, que experientes e sabedores das boas qualidades intrínsecas, decidiram-se por bons importados.

A minha definição de bom auto é mais ou menos assim: é um veículo alemão ou americano, de seis cilindros, potência ao menos de 190 CV, automático, com ar condicionado e direção assistida. ABS e acabamento em couro são mais que bem vindos! Pode ser velhinho (como é o meu caso, gosto de carros experientes!) porque status não me causa interesse algum, além de ser homem pobre que prefere bons desempenhos gerais de veículos aos modelitos novos da moda.

Os nacionais vão em direção oposta, como se pode claramente perceber. Por questões de custos e demais considerações, o carro brasileiro poderia ser definido como sendo de quatro cilindros (cujo único mérito é ser barato e leve), potência abaixo dos 100 CV, freios a disco na frente e tambores atrás, tudo forrado e ornado com plásticos rangedores, inapelavelmente mal acabados e de percepção geral de baixa qualidade.

Mas se estes argumentos não tocam o seu coração, bastará dizer que os mortos nas estradas de Pindorama passaram, e muito, dos tradicionais 45 mil ao ano. Segundo publicações do segmento os dados explodiram, e já se contabilizam algo perto de 67 mil!

Seria momento de parar de fabricar tanto e fabricar melhor?!

E há muuuuiiiiiito tempo.

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