CASÓRIOS

1185796_496099663814969_1355995765_n

Chico Anysio, que já faz tanta falta, contava caso acontecido com ele absolutamente hilariante. Chegava ao famoso restaurante e bar Antonio´s no Rio, quando encontrou mesa com muitos amigos. Sentou-se, sua presença foi celebrada, claro. Um dos amigos foi logo dizendo que estava mesmo precisando falar com o famoso comediante, pois estava escrevendo um livro.

Chico se espantou!

_ ”Um livro… Mas isto parece fenomenal! Sobre o quê exatamente?”

_ “É que eu e Maria iremos completar neste ano 40 anos de casados, assim, pensei com tempo, vou escrever um livro sobre o casamento.”

_ “Mas quem deveria escrever este livro deveria ser eu, emendou o Chico”.

O amigo recém escritor não se conteve: _ “Mas isto seria um descalabro, você se casou umas 11 ou 12 vezes!”

_ “Exatamente! Eu entendo de casamentos, você entende… De Maria!”

O diálogo é perfeito. Demonstra veia do velho Anysio, inteligente, rápido, perspicaz. O humor é filho desta capacidade de fazermos cócegas nos cérebros dos outros.

Mas é passagem igualmente perfeita para uma parada sobre o tema, ele mesmo inesgotável, infinito, profundo, ridículo, solene, apaixonado e apaixonante. Quando me separei pela primeira vez (sim, tal qual o Chico, também cometi o desatino de me casar várias vezes!) fui passar a primeira noite de descasado em apartamento de um amigo à época. Ele não estava exatamente espantado pela separação, mas eu me queixava, era o meio de uma crise pessoal quando ainda era jovem… _”Sequer tínhamos uma vida sexual legal…”

E meu amigo intrigado: _   “Mas o que casamento tem a ver com sexo, meu Deus?!”

Pois é… O casamento nasceu bem depois da humanidade estar criada e assentada. Uma vantagem do casório é que se pode escolher os parentes. Não se pode escolher nascer rico ou famoso, com propriedades ou pobre, mas se a coisa apertar, sempre se pode escolher um parente, quer dizer, arranjar uma união esperta, que salve famílias, reinos ou acordos políticos.

Um dia... Todo mundo se casa... Todo mundo....
Um dia… Todo mundo se casa… Todo mundo….

Na vidinha de cada um de nós o casamento tem papel importante e dúbio. Há milhões querendo se casar, mais milhões se perguntando como caíram na esparrela de terem se casado. Há os que se separaram porque não havia dinheiro, eram pobres de dar dó (e problemas), há os que separaram porque eram ricos demais, aquele tédio irritante dos ricos e poderosos. Há quem se separe por nunca ter sexo, há os que não aguentam mais tanto sexo do maníaco do parceiro! Há casais que brigam sem parar, que trocam farpas e indiretas em público (argh, já conheceram um casal destes?), há os que ainda, imaginem, se chamam de “pai e mãe”, hábito abominável que só encontra cura em consultórios.

Casamento é assim, feito pirulito, começa no doce e acaba no palito, recitavam as frases de para choques de caminhões de quando era criança. Se casamento fosse bom, ensinavam nossos avós, não precisava de testemunha.

No fundo… No fundo, mesmo sem querer, o ser humano procura a união e o acasalamento. É natural, é imperioso, o casamento acontece como escolher-se o clube de futebol do coração… Desconfia-se de quem nunca se casou e ainda de quem se casou demais! Amor para toda vida, juras de eterna paixão, ama-se tanto às vezes, que o coração não cede às tentações de cair na real e perceber que a relação muda, as pessoas mudam, a vida toma sempre novos contornos e que enfim, mesmo que cheios e plenos de amor, todos caem naquilo que chamo de “a massacrante rotina do casamento”. Aí entram, quando é o caso, a maturidade e a generosidade dos que realmente amam e se sabem amados. Complicado… E muito!

aliancaquebrada

Complexo, decadente e cheio de nuances, trágicas e hilariantes, os seres humanos fazem de suas relações algo entre o circo e o sublime, entre o patético e o angelical, tudo isto porque somos, acompanhem meu raciocínio… Humanos.

Logo nós humanos, pobres seres em existências precárias, nos metemos em achar que tudo está sob controle, que tudo pode ser para sempre, sem nos darmos conta que mudamos sempre e se assim não fosse, o precário seria insuportável.

Casamentos podem ser chatos desde a cerimônia, com a repetição monótona dos discursos dos padres, sempre voltando a Paulo, a mesma carta, a mesma citação, que é belíssima, é fato, mas que de tão repetida… Bem… vamos ao outro ponto. Cerimônias podem ser chatas, as festas podem ser muito, mas muito barangas e bregas de causar frisson! Mas há quem chore, se emocione, as mulheres se levantam emocionadas por vestidos e adornos nas Igrejas, estas coisas.

O casamento caiu de moda.

Descasar é até meio chic! Exige e exibe certa independência e altivez que cai bem em tempos de twiters e faces. Mas descasar dá trabalho, e muito!

É no descasar que realmente conhecemos ao outro, ao parceiro, o amor que se comprometeu conosco para a vida toda e agora briga com advogados, unhas e dentes, pela mesinha da sala e pela escritura da casa meio paga. No descasamento o que nunca foi dito fica maldito. Frases e comentários antes irônicos tornam-se ferinos e devastadores.

O casamento, pensando bem, em princípio, tem sempre mais chances de dar errado que realmente dar certo! Dois estranhos, de famílias estranhas, conhecendo-se já adultos na maioria das vezes, por razões que não se definem muito bem nem entre eles, resolvem que não conseguem mais viverem separados, que estar sob o mesmo teto é a única alternativa ao sofrimento das separações diárias e… decidem se casar.

Que maravilha.

Mas depois veem os filhos, as sogras, o cunhado que bebe muito, o genro que pede dinheiro emprestado (isto quando não gosta de pagode), as prestações das coisas… Ai ai, o romantismo cede espaço ao cansaço e ao tédio.

Mas não pensem que sou contra, se fosse não teria me casado tantas vezes. Casar e estar casado é bom. (bem… Eu acho, né?!)

(Oooops… A patroa passou por aqui, leu o artigo de soslaio, fez cara de que não gostou…)

Paro por aqui.

Casamento é coisa complicada…

Obrigado por visita o blog! São artigos novos ás terças e quintas. Leia também os perfis pessoal e profissional do autor e faça contato para palestras, projetos de consultoria, aulas… Será um prazer conhecer você.